18.4.10

CAP. 12 – DIÁLOGO...

Sinto como se andasse nas nuvens... tenho medo que elas se desmanchem a qualquer momento...

Cheguei em casa irradiando felicidade, estar com Tuy era mesmo o maior e o melhor dos sonhos. Queria poder realizar sonho de um dia encontrar o meu pai e poder chama-los de “meus dois amores”, mas sabia que esse sonho seria sempre um eterno devaneio em minha vida.


Minha mãe percebeu minha felicidade e me olhou com um misto de preocupação e alegria. Vi que ela buscava palavras para iniciar um diálogo e resolvi simplificar:


- O que se passa mamãe ? A senhora sabe que não esconde nada de mim!


Dona Cris aproveitou minha deixa e começou:


- Senta aqui Andréia! Precisamos conversar!


Senti um alerta dentro de mim... minha mãe raramente me chamava pelo nome todo, era sempre no diminutivo e eu não me lembrava de ter feito algo que a desagradasse. Sem se importar com o que se passava dentro de mim, ela começou:


- Filha, este ano você fará quinze anos e eu tenho sentido que algo pode estragar essa felicidade que você está sentindo! Sinto tanto medo! Quando seu pai arruinou minha vida, eu tinha a sua idade! E foi difícil enfrentar tudo se não fosse a ajuda de sua vó!


Sentindo meus olhos ficarem marejados, perguntei:


- Mãe, eu estou feliz com o Arthur, você não vai ficar contra né ? Por favor!!!


- Minha filha, não coloque palavras na minha boca! O que eu quero dizer é que temo que você sofra o que eu sofri! Tanto não vou ficar contra, como quero que você traga seu namoradinho aqui em casa para que eu possa conhecer! Se você quer namorar, não vejo problema! Mas será dentro das regras, tudo bem ?


Abracei minha mãe plena de alegria e respondi:


- Tudo ótimo mãe!!! Eu te amo mãezinha!!! Você é a melhor mãe do mundo!!


Nos abraçamos felizes tendo a esperança de dias melhores em nossos corações.

21.3.10

CAP. 11 - DESCOBERTA DO AMOR...

Saímos do cinema e nos dirigimos para um parque chamado Horto, repleto de vegetações diversas. Ao chegarmos lá, fiquei encantada com uma pracinha que ficava no meio de um grande chafariz, que me fazia pensar em algo romântico.

Tuy percebendo meu encanto pelo lugar, convidou-me:

- Vamos sentar ali ?

Antes que eu pudesse responder, Vivian interrompeu:la

- Gente, vocês não vão ficar sentados ai né ? Tenham dó!

Olhei feio para Vivian e ela deve ter percebido a mensagem oculta, pois disse:

- Ta legal gente!!! Já vamos sumir daqui!!! Vamos honey ????

E sem esperar resposta de Lucas dirigiram-se para a rampa que daria acesso ao outro lado do parque.

Ficamos a sós finalmente e sentindo borboletas voarem no meu estômago, deixei que Tuy tocasse minhas faces enquanto dizia:

- Déia, você é tão linda! Eu nunca gostei de beijar uma menina logo de cara, mas com você tudo é tão diferente! É como se uma força me impelisse até você!

Senti que minhas faces ruborizaram ao ouvir suas palavras e intimamente desejei que ele não falasse tanto, mas me abraçasse e me deixasse agasalhada em seus braços eternamente.

Estava perdida nesses pensamentos quando a voz de Tuy me trouxe de volta à realidade:

- Déia, você ficou quieta... fala alguma coisa! Está me deixando inquieto com seu silêncio!

Tomando coragem, abracei aquele garoto lindo que estava diante de mim e disse baixinho para que só ele ouvisse:

- Arthur, eu não sei te dizer tudo o que se passa em meu coração, mas se for amor, eu quero que seja eterno... pelo menos enquanto durar...

Tuy me calou com um selinho e me disse:

- Para mim, será eterno! Nunca duvide disso!

E selando o que me disse, me beijou tendo como cenário, os últimos raios de sol que incidiam sobre nós como se abençoasse nosso sentimento.

17.3.10

CAP. 10 - LUA NOVA... LITERALMENTE...

No escurinho do cinema eu podia sentir minhas mãos suando frio ao sentir a aproximação de Arthur, era estranho desejar que ele estivesse ainda mais próximo, nunca tinha sentido nada semelhante por ninguém.


O filme contava a estória de dois jovens que viviam uma estranha e linda estória de amor, pois pertencentes a mundos diferentes, eles precisavam superar as diferenças em nome de um amor sublime e aterrorizante, e era assim que me sentia em relação a Arthur... algo sublime me ligava a ele, mas ao mesmo tempo era aterrorizante não conseguir definir o que sentia sentada ali, ao lado dele... tudo era tão recente...


Vivian, sentada perto de mim, praticamente não assistia ao filme, ocupada em estudar a biologia da boca de Lucas. Senti-me impelida a me aproximar de Tuy que me abraçou e passou a alisar meu cabelo. A mão que estava livre logo procurou a minha e num piscar de olhos nossos dedos se entrelaçavam no exato momento em que a protagonista chegava na cidade italiana e salvava seu amado da morte certa que receberia ao se expor ao sol.

Daí em diante eu não vi mais nada, pois tudo que eu via à minha frente, era a boca de Tuy se unindo à minha num encaixe perfeito, como se nossos lábios já se conhecessem e se quisessem mutuamente.


Suas mãos tocavam meu rosto num toque gostoso e eu só desejava ardentemente que aquele momento não acabasse nunca mais. Teríamos ficado assim o resto da vida se Vivian não tivesse novamente atrapalhado com sua tagarelice:


- Opaa!!!! Desgruda ai minha gente que o filme já acabou!!


Senti os olhos de Tuy fuzilarem Vivian ao dizer:


- Cunhada, da próxima vez juro que te esgano se me atrapalhar novamente!


Vivian deu risada e respondeu:


- Ai cunhado! Cala a boca e não enche o saco! Vamos tirar fotos!


Saímos pra tirar fotos, embora Tuy tenha ficado furioso com o jeito atrevido de Vivian.



5.3.10

CAP. 9 - ESTRANHO SENTIMENTO

Pele gelada, mãos que tremem e não conseguem ficar firmes... o vem a ser isso afinal de contas ??

Nunca me arrumei tão rápido na vida! Vivian me apressava e minha mãe zombava:

- Então a minha garotinha vai sair com um gatinho ??? Meu Deus, eu estou ficando velha!!!

Olhei para minha mãe e me perguntei em que outro lugar do mundo uma mãe poderia achar normal que a filha fosse ao cinema tendo um rapaz por companhia, mas aquela era minha mãe... apesar de tudo que sofreu ainda encontrava motivos para sorrir e ser feliz.

Ignorando o sarrinho da dona Cris, continuei a analisar meu tomara-que-caia vermelho que deveria estar devidamente combinado com a minha calça de cós baixo preta. Vivian impaciente disse:

- Chega Déia! Já está linda, glamurosa, maravilhosa! Agora vamos embora, senão daqui dez anos ainda estaremos aqui!

Rindo da impaciência de minha amiga, minha mãe respondeu:

- Também acho! Anda logo dona Déia! Senão o gatinho vai sair correndo!

Sem ter mais como retardar a saída, passei meu Gabriela Sabatini e saímos. Ao chegarmos ao cinema, Tuy e Lucas já nos esperavam e senti borboletas voarem no meu estômago ao me deparar com o rapaz que há poucas horas eu havia conhecido.

Tuy era o típico rapaz de fazer qualquer uma parar de boca aberta. Alto, de pele branquinha, olhos esverdeados e cabelo castanho claro cortado curtinho e raspadinho na nuca, era o charme em pessoa.

Lucas e Vivian mal se aproximaram e já foram se beijando deixando-nos numa situação bem constrangedora. Abaixei a cabeça tentando encontrar palavras, mas parece que ele leu meus pensamentos e disse:

- Enquanto eles tentam se engolir a gente podia ir comprar os ingressos e de repente tomar uma coca-cola se você quiser!

- Agradeço e aceito! Não é bom ficar segurando vela!

Devo ter gaguejado mais que motor de carro velho mas acho que consegui ser compreendida, pois logo senti sua mão segurar a minha e desejei que não soltasse por nada neste mundo.

Já estávamos comprando nossos ingressos quando Vivian e Lucas nos alcançaram reclamando:

- Poxa!!! Mais um pouco e vocês nos deixariam para trás!

Tuy me abraçou e respondeu rindo:

- Quem mandou vocês ficarem na tentativa de se engolirem um ao outro ? Nosso tempo é precioso!

E olhando para mim continuou:

- Déia, você está gelada! O que foi, está com frio neste calor ?

Vivian respondeu em meu lugar com suas eternas piadinhas:

- Esquenta ela cunhado!!!

Olhei para Vivian sentindo um desespero crescer dentro de mim e respondi:

- Vivian!!!

Minha amiga riu e continuou:

- Ok ok!!! Não está mais aqui quem falou!!! Mas se eu fosse você eu não deixava meu cunhado escapar!

Tuy me socorreu:

- Déia, quando a Vivi abre a torneirinha de besteirol não tem quem feche! Vamos entrar para assistir o filme que a gente ganha mais!

Entramos na sala e nos sentamos lado a lado.

21.2.10

CAP. 8 - INÍCIO DE AULAS

O ano letivo começou diferente para mim... cidade nova, colegas novos, mas ao menos eu tinha Vivian por perto, o que facilitava um pouco as coisas para mim, que tinha uma timidez interminável!! Vivian ficaria na sala do nono ano, ao passo que eu ficaria na turma do primeiro ano do ensino médio, mas nos intervalos estaríamos juntas.

Ao chegar em minha sala, me deparei com pessoas animadas que me olhavam com uma expressão de quem diz: "olha, é a caloura que está chegando!". Gostaria que um buraco se abrisse diante de mim para que eu pudesse entrar dentro e não ter que aguentar olhares... era como se o velho filme fosse se repetir.

Ainda estava perdida em meus devaneios, quando um rapaz se levantou e veio até mim:

- Olá!! Seja bem-vinda! Sou o Arthur, mas todos na sala me chamam de Tuy! Estudo aqui desde a quinta série!

Fiquei surpresa com a receptividade daquele rapaz que à primeira vista me pareceu extremamente educado, o que seria confirmado no decorrer dos dias. Tentei abandonar minha timidez e respondi ao seu cumprimento:

- Olá! Sou Andréia, mas pode me chamar de Déia, é como minha mãe me chama! Eu sou nova na cidade, estou um pouco perdida, não estranhe se eu começar a gaguejar demais, tudo bem ?

Arthur abriu o mais lindo sorriso que eu já vira e respondeu:

- Não se preocupe! E com todo respeito, você ficou linda com as faces avermelhadas!

Senti que minhas bochechas queimavam, minhas mãos suavam frio e as pernas pareciam não querer ficarem firmes e eu podia me derreter a qualquer momento! O que era aquilo ?

Percebendo meu visível embaraço, Arthur puxou uma cadeira ao seu lado e ofereceu-a para que me sentasse. Assenti de bom grado, seria agradável ter alguém teoricamente conhecido dentro da sala.

O professor entrou na sala apressado e já jogando os livros na mesa e fui obrigada a me concentrar, não sem muito esforço. A aula teria sido tranquila se minhas mãos me ajudassem e não ficassem geladas toda vez que eu sentia um lindo par de olhos sobre mim. Pior do que isso, era ter que admitir que meus olhos também o buscavam!

Para meu alívio, o sinal que anunciava o intervalo tocou e me dirigi depressa para a cantina, onde deveria encontrar Vivian.

Ao chegar no local combinado, Vivian me esperava ao lado de um garoto e fez as apresentações:

- Déia, este é o Lucas, o meu gatinho!!!

E virando-se para Lucas, disse:

- E essa é a minha amiga Déia, nossa aluna nova!

Lucas estendeu a mão para mim e me cumprimentou:

- Prazer Déia! Já ouvimos falar muito de você!

Ia abrir a boca para responder, quando fui interrompida por uma voz já conhecida:

- Andréia! Então você já conheceu o meu irmão ?

Virei-me para confirmar se a voz era de quem eu pensava e fiquei surpresa, diante de mim, estava Arthur, que por coincidência, era irmão de Lucas, que por sua vez namorava Vivian! Tive que rir do acontecimento inesperado e respondi:

- Primeiramente, muito prazer Lucas! Segundo, sim Arthur, conheci seu irmão! Que mundo pequeno! A Vivian é minha vizinha! Decidi estudar aqui para ter a companhia dela pois sou muito tímida!

- Tímida ????? Você ???? Imagina!!! - Vivian gracejou.

E me olhando com uma carinha maliciosa continuou:

- Mas sabe que eu adorei vocês já se conhecerem, assim podemos combinar um cineminha para os quatro! Não é uma boa ideia cunhado ?

- Cunhadinha... sabe que de vez em quando você pensa de forma inteligente ? Adorei sua ideia! Hoje às seis da tarde no centro da cidade ou no shopping ?

Vivian respondeu por mim:

- No centro da cidade!! Fica mais perto!

Sem alternativa, aceitei a ideia dos três e nos sentamos numa mesa perto da cantina para tomarmos um suco antes de retornar para a sala de aula.

Os dois tempos finais pareciam não acabar nunca, e eu estava sinceramente angustiada, nunca fui assim... por que tanta perturbação afinal ?

CAP. 7 - TRISTES RECORDAÇÕES...

Pagar por um erro que não cometi... até quando ??

Imersa em lembranças, minha mãe continuou seu relato:

- Muitas vezes tentei saber de meus pais, mas meu pai não aceitava me encontrar! Minha mãe, então, teve a ideia de me ver às escondidas, quando saía para vender roupas nas casas das suas clientes! Nosso primeiro encontro se deu seis meses depois, quando eu já estava em estágio avançado de gravidez! Jamais me esquecerei do presentinho que ela levou para a Déia, um par de sapatinhos que eu guardo até hoje!

- E vocês se encontraram muitas vezes ainda ? - Vivian questionou.

- Não! Consegui ver minha mãe quando a Déia nasceu, mas meu pai descobriu e se mudou da cidade... e desde então eu nunca mais soube dela!

Ao dizer isso, lágrimas amargas escorreram pelas faces de minha querida mãe! Era doloroso vê-la chorar de saudade de meus avós que eu praticamente não conheci. Mas vendo tanto sofrimento já começava a pensar uma solução para isso e talvez Vivian, com seu modo tão audacioso pudesse me ajudar.

Isabela interrompeu o curso dos meus pensamentos dizendo:

- Cris, você já sofreu muito com tudo isso! Não fique recordando esses fatos! Vamos passear um pouco e arejar essa cabecinha que precisa de pensamentos alegres!!

Minha mãe enxugou as lágrimas e disse:

- Eu luto diariamente para esquecer tudo isso! Mas há dias que as lembranças me assaltam e fica impossivel não me emocionar! A Déia, mais de uma vez quis procurar os avós, mas eu achei melhor não!!

Ao ouvir isso, Vivian se virou para mim e entendi pelo seu olhar que a ideia que se passava em sua cabeça era a mesma que se passava na minha! Teríamos uma forte amizade pela frente...

7.1.10

CAP. 6 - CONFIDÊNCIAS

O passado dói como uma eterna bofetada... mas o presente serve para esquecê-lo e do futuro espero dias melhores...

Ao chegar no famoso Dogão, pedimos nossos lanches e constatamos que os elogios de Vivian eram mesmo sinceros, pois o sabor agradava plenamente o paladar.

Durante o lanche pensei na camaradagem de Isabela e minha mãe e não pude evitar as lágrimas. Vivian logo quis saber por quê e respondi:

- Fiquei olhando sua mãe sendo tão gentil com a minha e me emocionei, minha mãe passou muito tempo na mais completa solidão.

Minha mãe interrompeu a conversa:

- Minha filha, acho que o momento não é o mais apropriado para falarmos de assuntos tristes!

Isabela interveio:

- É isso mesmo!! Vamos comer nosso lanche e no caminho paramos na antiga estação e conversamos com mais tranquilidade!

Terminamos nosso lanche e saimos caminhando rumo a tal antiga estação que Isabela comentou. Ao chegarmos lá, me deparei surpresa, era um velho galpão abandonado que no passado fora usado pela estação ferroviária da cidade.

Nos acomodamos nas muretas e minha mãe com olhar perdido começou a contar a Isabela sua vida.

"eu nasci numa cidadezinha pequena de moradores bem provincianos, as mulheres eram fadadas a uma vida politicamente correta, lavando, passando e cozinhando para o marido e os filhos! E na minha família não era diferente!

Éramos vizinhos de um casal que tinha uma filha de minha idade e que era a minha melhor amiga! Crescemos juntas e sempre muito unidas! Porém, na adolescência nos apaixonamos pelo mesmo rapaz, um jovem que havia chegado a pouco tempo na cidade e que logo se tornou o queridinho de todas as meninas!

O Daniel, era um cara charmoso, pele branca e olhos azuis, cabelos negros e ligeiramente compridos presos num rabo de cavalo com um corpo estonteante trabalhado diariamente na academia, era o tipo de cara que parava o trânsito e de quebra, ainda tinha a moto que fazia sucesso na época, a famosa garelli que era mesmo uma gracinha! Ele era um tipo playboy da época.

Não demorou, ele começou a me cortejar na escola, mas eu tinha receio por ele ser da turma da noite, estudava o segundo grau no técnico em contabilidade."

Nesse momento Vivian interrompeu:

- Técnico em contabilidade ? O que é isso ?

Isabela se zangou:

- Vivian, não interrompa!

Sem se importar com a interrupão, minha mãe respondeu:

- Na nossa época Vivian, quando terminávamos o primeiro grau que ainda era conhecido como ginásio, só tínhamos a opção de estudar magistério para sermos professoras ou íamos estudar técnico em contabilidade! O científico era opção somente nas grandes cidades!

- Entendi! Mas continue sua história, por favor!

Tomando fôlego, minha mãe continuou:

"Comecei a sair com o Daniel e me apaixonei, mas ele queria algo mais forte e que eu tinha receio devido aos costumes tradicionais da época! E foi aí que comecei a notar que ele andava estranho, estava sempre distante e sempre me deixando em casa mais cedo do que de costume.

Com medo de perder o amor dele, resolvi ceder ao que ele queria e logo me vi com ele entre quatro paredes. O que eu senti, foi um misto de satisfação e vergonha, a primeira por ter agradado meu amor e a segunda por ter certeza do desgosto que daria aos meus pais se eles descobrissem que agora não era mais virgem!

Cerca de duas semanas depois, senti que Daniel estava nervoso e tentava saber o motivo e ele sempre se esquivava. Ficamos nesse clima instável dois meses, quando notei que minhas regras estavam ausentes. Foi quando minha mãe também se deu conta disso e me levou ao médico, pois era comum atrasos de alguns dias, mas nunca de dois meses.

Nunca vou me esquecer da cara de desgosto de minha mãe, quando o médico anunciou que eu estava grávida de dois meses! Eu só tinha quatorze anos!

Meus pais procuraram por Daniel e o que ouvimos dele nos estarreceu, com ar desesperado, ele disse que não poderia casar comigo pois Janete também esperava um filho dele e que o pai dela, que era policial disse que o mataria se não assumisse seu compromisso com a filha dele!

Chegando em casa, pedi a Deus que me poupasse de dores mais fortes, mas o que vi diante de mim me encheu de pavor! Meu pai tirou o cinto e partiu para cima de mim, minha mãe adivinhando o que iria acontecer, entrou na minha frente gritando por socorro!

Atraídos pelos gritos, os vizinhos entraram em casa e uma senhora idosa, dona Geni me tirou de dentro de casa enquanto meu pai começava a jogar minhas coisas na rua. Ao me dar conta do que iria me acontecer, senti um pavor imenso, afinal, para onde eu iria, pelo amor de Deus ? Eu não tinha ninguém, conhecia perfeitamente bem os costumes da cidade e sabia que ninguém seria capaz de estender a mão para uma mãe solteira que naquela época era tachada como vagabunda!

Ajoelhei no meio da rua e chorando pedi clemência a meu pai, mas parecia que ele não me ouvia mais! Minha mãe apegada aos costumes tradicionais, ficou do lado dele mortificada por não ter coragem de enfrentá-lo.

Dona Geni, com a ajuda de outros vizinhos recolheram minhas coisas e envolveu-me num abraço carinhoso e me levou para sua casa. Aceitei sua oferta com gratidão, pois foi a única que me acolheu de braços abertos.

Para me ajudar, ela se mudou para uma casa mais afastada da cidade para que eu pudesse viver com mais tranquilidade e gerar o meu bebê que no começo eu queria abortar mas fui convencida a não cometer esse crime. E ainda bem que não fiz isso, olhe como a Andréia está linda hoje! É tudo o que eu tenho na vida, além de minha mãezinha do coração que ficou no interior.

Dona Geni me deu estudo e me ajuda até hoje com a Déia, tudo o que sou, o que tenho, eu devo a ela!

Estudei magistério e depois me formei em Pedagogia e com isso, me tornei independente! Minha filha tem de tudo, mas chegou uma hora que era preciso ir em busca de novos horizontes! A Deía precisa estudar e no interior ia ser dificil! Então decidimos que eu viria com ela para a capital e dona Geni ficaria no interior, pois acha que não se acostumaria com a vida na capital!

Isabela com os olhos úmidos, perguntou:

- E seus pais Cris ? Onde estão ?