21.2.10

CAP. 8 - INÍCIO DE AULAS

O ano letivo começou diferente para mim... cidade nova, colegas novos, mas ao menos eu tinha Vivian por perto, o que facilitava um pouco as coisas para mim, que tinha uma timidez interminável!! Vivian ficaria na sala do nono ano, ao passo que eu ficaria na turma do primeiro ano do ensino médio, mas nos intervalos estaríamos juntas.

Ao chegar em minha sala, me deparei com pessoas animadas que me olhavam com uma expressão de quem diz: "olha, é a caloura que está chegando!". Gostaria que um buraco se abrisse diante de mim para que eu pudesse entrar dentro e não ter que aguentar olhares... era como se o velho filme fosse se repetir.

Ainda estava perdida em meus devaneios, quando um rapaz se levantou e veio até mim:

- Olá!! Seja bem-vinda! Sou o Arthur, mas todos na sala me chamam de Tuy! Estudo aqui desde a quinta série!

Fiquei surpresa com a receptividade daquele rapaz que à primeira vista me pareceu extremamente educado, o que seria confirmado no decorrer dos dias. Tentei abandonar minha timidez e respondi ao seu cumprimento:

- Olá! Sou Andréia, mas pode me chamar de Déia, é como minha mãe me chama! Eu sou nova na cidade, estou um pouco perdida, não estranhe se eu começar a gaguejar demais, tudo bem ?

Arthur abriu o mais lindo sorriso que eu já vira e respondeu:

- Não se preocupe! E com todo respeito, você ficou linda com as faces avermelhadas!

Senti que minhas bochechas queimavam, minhas mãos suavam frio e as pernas pareciam não querer ficarem firmes e eu podia me derreter a qualquer momento! O que era aquilo ?

Percebendo meu visível embaraço, Arthur puxou uma cadeira ao seu lado e ofereceu-a para que me sentasse. Assenti de bom grado, seria agradável ter alguém teoricamente conhecido dentro da sala.

O professor entrou na sala apressado e já jogando os livros na mesa e fui obrigada a me concentrar, não sem muito esforço. A aula teria sido tranquila se minhas mãos me ajudassem e não ficassem geladas toda vez que eu sentia um lindo par de olhos sobre mim. Pior do que isso, era ter que admitir que meus olhos também o buscavam!

Para meu alívio, o sinal que anunciava o intervalo tocou e me dirigi depressa para a cantina, onde deveria encontrar Vivian.

Ao chegar no local combinado, Vivian me esperava ao lado de um garoto e fez as apresentações:

- Déia, este é o Lucas, o meu gatinho!!!

E virando-se para Lucas, disse:

- E essa é a minha amiga Déia, nossa aluna nova!

Lucas estendeu a mão para mim e me cumprimentou:

- Prazer Déia! Já ouvimos falar muito de você!

Ia abrir a boca para responder, quando fui interrompida por uma voz já conhecida:

- Andréia! Então você já conheceu o meu irmão ?

Virei-me para confirmar se a voz era de quem eu pensava e fiquei surpresa, diante de mim, estava Arthur, que por coincidência, era irmão de Lucas, que por sua vez namorava Vivian! Tive que rir do acontecimento inesperado e respondi:

- Primeiramente, muito prazer Lucas! Segundo, sim Arthur, conheci seu irmão! Que mundo pequeno! A Vivian é minha vizinha! Decidi estudar aqui para ter a companhia dela pois sou muito tímida!

- Tímida ????? Você ???? Imagina!!! - Vivian gracejou.

E me olhando com uma carinha maliciosa continuou:

- Mas sabe que eu adorei vocês já se conhecerem, assim podemos combinar um cineminha para os quatro! Não é uma boa ideia cunhado ?

- Cunhadinha... sabe que de vez em quando você pensa de forma inteligente ? Adorei sua ideia! Hoje às seis da tarde no centro da cidade ou no shopping ?

Vivian respondeu por mim:

- No centro da cidade!! Fica mais perto!

Sem alternativa, aceitei a ideia dos três e nos sentamos numa mesa perto da cantina para tomarmos um suco antes de retornar para a sala de aula.

Os dois tempos finais pareciam não acabar nunca, e eu estava sinceramente angustiada, nunca fui assim... por que tanta perturbação afinal ?

CAP. 7 - TRISTES RECORDAÇÕES...

Pagar por um erro que não cometi... até quando ??

Imersa em lembranças, minha mãe continuou seu relato:

- Muitas vezes tentei saber de meus pais, mas meu pai não aceitava me encontrar! Minha mãe, então, teve a ideia de me ver às escondidas, quando saía para vender roupas nas casas das suas clientes! Nosso primeiro encontro se deu seis meses depois, quando eu já estava em estágio avançado de gravidez! Jamais me esquecerei do presentinho que ela levou para a Déia, um par de sapatinhos que eu guardo até hoje!

- E vocês se encontraram muitas vezes ainda ? - Vivian questionou.

- Não! Consegui ver minha mãe quando a Déia nasceu, mas meu pai descobriu e se mudou da cidade... e desde então eu nunca mais soube dela!

Ao dizer isso, lágrimas amargas escorreram pelas faces de minha querida mãe! Era doloroso vê-la chorar de saudade de meus avós que eu praticamente não conheci. Mas vendo tanto sofrimento já começava a pensar uma solução para isso e talvez Vivian, com seu modo tão audacioso pudesse me ajudar.

Isabela interrompeu o curso dos meus pensamentos dizendo:

- Cris, você já sofreu muito com tudo isso! Não fique recordando esses fatos! Vamos passear um pouco e arejar essa cabecinha que precisa de pensamentos alegres!!

Minha mãe enxugou as lágrimas e disse:

- Eu luto diariamente para esquecer tudo isso! Mas há dias que as lembranças me assaltam e fica impossivel não me emocionar! A Déia, mais de uma vez quis procurar os avós, mas eu achei melhor não!!

Ao ouvir isso, Vivian se virou para mim e entendi pelo seu olhar que a ideia que se passava em sua cabeça era a mesma que se passava na minha! Teríamos uma forte amizade pela frente...