26.6.12

CAP. 37 – AMOR X RANCOR


Entramos na casa de Dora, minha avó biológica, a casa que tantas vezes minha mãe descreveu com profunda tristeza. 

A sala grande e espaçosa, com sofás antigostinha janelas com vidraças coloridas, me dava uma ideia de ter voltado para algum lugar do passado.

televisão era tão antiga que eu poderia bem pensar que havia saído de algum museu da imagem e do som. Na mesinha de centro da sala, minha avó devia colecionar cisnes de todas as cores.

Tentei me acomodar com Vivian em um sofá de dois lugares enquanto vó Geni com meus avós biológicos se sentaram no sofá com três lugares e minha mãe se acomodou numa poltrona  que devia ser a peça mais moderna daquela sala.

 Meu avô iniciou a conversa:

- Cristina, há muito que desejo lhe pedir perdão pelo que fiz a você, pensando somente no meu orgulho e na honra de família, privei você de um futuro, privei minha neta de ter uma família... e ainda proibi sua mãe de visitá-la temendo os comentários que pudessem cair sobre nós! Mas com o passar dos anos, senti um remorso tão grande por não saber notícias suas, que acabei desenvolvendo um câncer... penso que deve ser Deus me castigando por ter abandonado você à própria sorte!

Minha mãe ouvia tudo em silêncio enquanto eu temia pela reação que tais palavras poderiam provocar. Vivian segurava minhas mãos com força, eu só não sabia se era para me dar forças ou para ocultar o seu nervosismo diante de uma cena daquelas.

Minha avó biológica deu continuidade à fala de meu avô:

- Sempre me torturei pensando em que parte do mundo vocês poderiam estar! Até que me veio a ideia de procurar por Izabel, que é prima de Geni, para tentar saber onde vocês estariam morando! Izabel não me forneceu o endereço, mas me prometeu telefonar para Geni, e, se ela concordasse, forneceria o contato! Eu não tive outra saída, senão aceitar, afinal, não estava em condições de exigir nada de ninguém!

Eu sentia que as lágrimas estavam prestes a cair em meu rosto, mas eu não queria demonstrar todo o sofrimento que eles me causaram durante todos esses anos. Minha mãe, ao contrário, discretamente já enxugava as lágrimas que rolavam silenciosamente pelo seu rosto.

Vó Geni respirou fundo e deu continuidade á narrativa de vó Dora:

- Izabel me ligou quando eu estava na casa de vocês e eu achei que já era chegada a hora de vocês se reencontrarem! Já é tempo de todas as mágoas se acabarem!

- Por isso, sugeri essa viagem! Para que vocês pudessem conversar e reciclar todo esse passado de mágoas e ressentimentos! Mas preciso dizer Dora, que felizmente, apesar de não ter posses como vocês, fiz o possível para Cristina estudar! Ela se graduou em Pedagogia e desde que Andreia nasceu, fazemos uma poupança para a sua faculdade e para a sua festa de quinze anos!

Meu avô abaixou a cabeça chorando baixinho. Vivian olhou-me como a me dizer algo, e, entendendo seu recado, levantei-me e fui em direção ao meu avô. Ajoelhei-me diante dele e toquei suas faces, molhadas pelas lágrimas.

- Vô, esqueça o que passou!! Eu sofri muito por tudo que vocês fizeram, mas está na hora de termos um pouco de paz!

Fui interrompida por minha mãe:

- Pai, não sei se poderei perdoar de pronto, mas pela Deia, pela sua neta, eu vou me esforçar um pouco a cada dia! Não consigo passar uma borracha em tudo que eu sofri! Mas farei esse esforço, um pouco a cada dia pela sua neta!

Meu avô abraçou-nos de uma só vez, pedindo perdão repetidas vezes, mas eu não conseguia chorar... não havia lugar para lágrimas.... perdoar de coração era algo que também eu ainda não era capaz de conseguir de imediato, mas dar uma oportunidade de meus avós se aproximarem não era tão difícil.






 

 

13.6.12

CAP. 36 - REENCONTRO


Olhei aquele casal que até agora eram tão estranhos e ao mesmo tempo tão íntimos para mim. Minha mãe não teve iniciativa e permaneceu parada no portão, ao passo que eu também não conseguia articular palavra e limitei-me a abraçar-me a ela.

Vivi, sem saber o que fazer, segurou no braço de vó Geni sem saber o que fazer diante de uma situação que nem ela, com tanta descontração, era capaz de dominar.

Vó Geni foi quem quebrou o gelo e tomou a iniciativa:

- Como vai Dora ? Como vai Renato ?

Minha verdadeira avó estava trêmula e aproximou-se de nós:

- Geni... você as trouxe mesmo ?? Essa moça é realmente minha neta ?

Aproximando-se de mim, minha avó biológica tocou em meu rosto e em meu cabelo.

- Meu Deus!!! Quando te vi, você era uma bebê tão pequenina!!! Era um anjinho!!!

Sem conseguir se conter mais, ela me abraçou e permitiu que o pranto rolasse em suas faces. Eu sempre imaginei que no dia em que isso viesse a acontecer, eu me desmancharia em lágrimas, mas a realidade, ali, bem diante de mim, estava sendo bem diferente... eu não conseguia me emocionar... estranhamente, aquela mulher não tinha nenhum valor sentimental.

Meu avô se aproximou de minha mãe, apoiando-se numa bengala:

- Cristina... filha...

Mamãe permaneceu parada, parecendo petrificada. Achei que também ela se derramaria em lágrimas, mas vendo seu comportamento, não consegui prever que tipo de sentimentos e reações poderiam se desencadear.

Meu avô biológico abraçou-a mas minha mãe foi fria, indiferente.

Mais uma vez foi vó Geni que veio em nosso socorro.

- Dora querida, estamos cansadas! Podemos entrar ? Lá dentro conversaremos melhor!