Entramos
na casa de Dora, minha avó biológica, a casa que tantas vezes minha mãe
descreveu com profunda tristeza.
A
sala grande e espaçosa, com sofás antigos, tinha
janelas com vidraças coloridas, ,
me dava uma ideia de ter voltado para algum lugar do passado.
A televisão era
tão antiga que eu poderia bem pensar que havia saído de algum museu da imagem e
do som. Na mesinha de centro da sala, minha avó devia colecionar cisnes de
todas as cores.
Tentei
me acomodar com Vivian em um sofá de dois lugares enquanto vó Geni com meus
avós biológicos se sentaram no sofá com três lugares e minha mãe se acomodou
numa poltrona que
devia ser a peça mais moderna daquela sala.
Meu
avô iniciou a conversa:
-
Cristina, há muito que desejo lhe pedir perdão pelo que fiz a você, pensando
somente no meu orgulho e na honra de família, privei você de um futuro, privei
minha neta de ter uma família... e ainda proibi sua mãe de visitá-la temendo os
comentários que pudessem cair sobre nós! Mas com o passar dos anos, senti um
remorso tão grande por não saber notícias suas, que acabei desenvolvendo um
câncer... penso que deve ser Deus me castigando por ter abandonado você à
própria sorte!
Minha
mãe ouvia tudo em silêncio enquanto eu temia pela reação que tais palavras
poderiam provocar. Vivian segurava minhas mãos com força, eu só não sabia se
era para me dar forças ou para ocultar o seu nervosismo diante de uma cena
daquelas.
-
Sempre me torturei pensando em que parte do mundo vocês poderiam estar! Até que
me veio a ideia de procurar por Izabel, que é prima de Geni, para tentar saber
onde vocês estariam morando! Izabel não me forneceu o endereço, mas me prometeu
telefonar para Geni, e, se ela concordasse, forneceria o contato! Eu não tive
outra saída, senão aceitar, afinal, não estava em condições de exigir nada de
ninguém!
Eu
sentia que as lágrimas estavam prestes a cair em meu rosto, mas eu não queria
demonstrar todo o sofrimento que eles me causaram durante todos esses anos.
Minha mãe, ao contrário, discretamente já enxugava as lágrimas que rolavam
silenciosamente pelo seu rosto.
Vó
Geni respirou fundo e deu continuidade á narrativa de vó Dora:
-
Izabel me ligou quando eu estava na casa de vocês e eu achei que já era chegada
a hora de vocês se reencontrarem! Já é tempo de todas as mágoas se acabarem!
-
Por isso, sugeri essa viagem! Para que vocês pudessem conversar e reciclar todo
esse passado de mágoas e ressentimentos! Mas preciso dizer Dora, que
felizmente, apesar de não ter posses como vocês, fiz o possível para Cristina
estudar! Ela se graduou em Pedagogia e desde que Andreia nasceu, fazemos uma
poupança para a sua faculdade e para a sua festa de quinze anos!
Meu
avô abaixou a cabeça chorando baixinho. Vivian olhou-me como a me dizer algo,
e, entendendo seu recado, levantei-me e fui em direção ao meu avô. Ajoelhei-me
diante dele e toquei suas faces, molhadas pelas lágrimas.
-
Vô, esqueça o que passou!! Eu sofri muito por tudo que vocês fizeram, mas está
na hora de termos um pouco de paz!
Fui
interrompida por minha mãe:
-
Pai, não sei se poderei perdoar de pronto, mas pela Deia, pela sua neta, eu vou
me esforçar um pouco a cada dia! Não consigo passar uma borracha em tudo que eu
sofri! Mas farei esse esforço, um pouco a cada dia pela sua neta!
Meu
avô abraçou-nos de uma só vez, pedindo perdão repetidas vezes, mas eu não
conseguia chorar... não havia lugar para lágrimas.... perdoar de coração era
algo que também eu ainda não era capaz de conseguir de imediato, mas dar uma
oportunidade de meus avós se aproximarem não era tão difícil.
2 comentários:
Ai que lindo, me emocionei...kakakka.
Renata.
Aninha cade vc?????
renata
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